Hoje vamos falar um pouco sobre um
caso que vem nos chamando a atenção. Notamos que um mestre em artes
marciais vem fazendo uso deste recursos para se auto promover. A
princípio nada contra, pois saber nem que seja um pouco da língua
do país do qual se origina uma arte marcial é super válido. Porém
notamos algumas contradições com relação a isto que devem serem
esclarecidas. Portanto vamos esclarecer que contradições são estas
que estão por trás deste título de “Dr. Honoris Causa em
Terminologias das Arte Marciais Japonesas”.
Imagem de domínio público no Facebook* |
Começaremos este post com alguns
esclarecimentos:
O que faz uma pessoa estar apta à
entender uma língua estrangeira?
Primeiramente a pessoa deverá
aprender uma língua estrangeira em algum curso ou escola capacitada
para isto. Esta máxima vale para o aprendizado de qualquer língua
estrangeira, até mesmo para o a língua espanhola tão parecida com
a língua portuguesa (portunhol não basta). Os cursos de línguas em
si também não bastam para uma pessoa ser “entendedora” de uma
determinada língua, somente decoreba e repetição não fazem de uma
pessoa um linguista fluente, para ter fluência deve-se ter a
prática, falar com as pessoas que sejam fluentes nesta língua.
Como uma pessoa pode provar que é
entendedora de uma determinada língua?
A opção mas fácil e acessível é
concluir cursos de língua estrangeira e receber os certificados
destes, mas devemos fazer uma observação, não basta receber os
certificados e guarda-los numa gaveta, em cinco anos se recomenda
fazer uma reciclagem do seu conhecimento, pois a falta de prática
pode levar ao esquecimento da língua. Outra opção é fazer os
testes de proficiência na língua estrangeira. Conquistar um
certificado de proficiência é um meio OFICIAL de testar e
provar o conhecimento numa determinada língua. Os testes de
proficiência geralmente são feitos por algum órgão ou instituição
encarregada de uniformizar e fazer esta avaliação. Vejam alguns
testes de proficiência nesta matéria: Os principais teste de proficiência em vários diomas.
Com relação a língua japonesa o teste de proficiência é aplicado
pela Japan Fundation, a prova é conhecida pelo nome de
“Noriyoko Shiken”. Um certificado de proficiência é
essencial caso uma pessoa queira estudar em outros países, pois
conta pontos na hora de fazer uma pós-graduação, ou bolsa de
estudos em faculdades internacionais. Veja mais neste link: Exames de Proficiência. Outra forma é a pessoa se formar no curso de Letras com a especialização em Língua Estrangeira (no caso aqui línguas asiáticas).
Sobre este assunto veja mais neste link: Certificado japones.
Sobre este assunto veja mais neste link: Certificado japones.
O que seria um título de Doutor?
No universo acadêmico, ou seja curso
superior (faculdade ou universidade), existem graus que uma
pessoa por intermédio de seus estudos pode chegar, o primeiros podem
ser os títulos ou de bacharel ou de licenciatura (agora
também tem o tecnólogo), depois vem a pós-graduação,
depois se a pessoa quiser continuar se especializando ela pode tirar
o mestrado, na continuação deste vem o doutorado, na
sequencia ainda pode tirar o pós-doutorado.
O que seria um título de Dr
Honoris Causa?
Este é um título honorífico
concedido por uma universidade a uma pessoa eminente,
esta não necessariamente pode ter recebido anteriormente um diploma
universitário, basta que tenha se destacado em determinada
área (artes, ciências, filosofia, letras, promoção da paz, de
causas humanitárias etc.). Para a alguém ser digno deste título a
pessoa tem que ter feito algo realmente relevante e significativo
para a sociedade, ou para a ciência, etc.
Lembramos que para estes títulos
universitários serem válidos no Brasil os cursos superiores de
faculdades (ou universidade) tem que passar pela avaliação do
MEC e ter a autorização da mesma para poderem certificar.
Diploma de curso sem reconhecimento do MEC só serve para enfeitar
parede.
E por falar em faculdades…. Voltando
para aquele shihan de karate que se diz “Dr. Honoris Causa em
Terminologias das Arte Marciais Japonesas”... Sim, ele
se gaba de ter um título de Dr. H. C. e faz questão de salientar
isto, inclusive na hora de assinar seus diplomas. Mas será que para
as artes marciais isto realmente é relevante? Será que este
conhecimento é digno de um título desta magnitude?
Vejamos as reflexões abaixo:
O que foi feito de relevante por
este shihan que seja digno de um título de Dr. Honóris Causa?
Para sociedade não teve benefício
nenhum, muito menos para a língua japonesa, menos ainda para o
karate que sempre usou estes termos em japonês, pois afinal o karate
veio do Japão (Okinawa é território japonês). Relembrando, o
título de “Dr. H.C.” é para aquelas pessoas que fizeram algo
de relevante.
Saber as palavrinhas em japonês
de uma determinada arte marcial é relevante?
As palavrinhas em japonês somente são
relevantes para quem pratica a arte marcial, pois quem não pratica
esta pouco se lixando se o correto é escrever “OSS” ou “OSU”
por exemplo, ninguém perde noites de sono ou deixa de aprender uma
arte marcial por conta disto.
Será que uma pessoa com o nível
básico na língua japonesa não teria a capacidade de saber a mesma
coisa que o Dr. Honoris Causa?
A princípio os termos em japonês
ditos dentro da prática do karate não são tão difíceis para quem
estuda a língua japonesa, pois eles dizem respeito a posições e
direções, nomes de bases, nomes de katas que já foram de certa
forma traduzidos para a língua portuguesa. Se a praticante de karate
tem um livro escrito em japonês melhor ainda, pois pode estudar os
kanjis, mas mesmo assim sem ver os caracteres japoneses pode-se
conhecer muito de “terminologias japonesas” com o karate.
Qualquer praticante que saiba os nomes dos golpes sabe alguma coisa
na língua japonesas, apesar de não se dar conta disto. Exemplo:
mae, ushiro, jo, chu, ague, soto, uchi, palavras que se aprende no
karate, estes termos também são ensinados nos cursos de língua
japonesas básico.
Livros de karate escrito em japonês que já foram passados para a língua portuguesa |
Sim, isto mesmo, alguém com o
conhecimento adquirido em cursos de japonês no nível básico pode
saber o mesmo que o “Doutor” em terminologias, conhecimento
este equivalente a prova de nível 5 do exame de proficiência em
língua japonesa, que é o mais fácil de todos os testes de
proficiência da Japan Fundation. Basta pegar os dicionários e livros certos
e estudar, não há mistério nenhum com relação aos termos usados
no karate, não para quem realmente estuda o japonês.
Exatamente por isto que um título Dr.
H.C. é pompa demais para um conhecimento que qualquer estudante de
língua japonesa pode adquirir, além do que isto não acrescenta nada para a
sociedade, nem para a comunidade de praticantes do karate e muito
menos para a língua japonesa. Não é o mesmo que
“descobrir a pólvora” ou “descobrir a roda”, isto não
acrescenta nada! Mesmo porque sempre foram usadas as terminologias
japonesas para ensinar o karate. O “Doutor” do karate não
descobriu nada de novo, não acrescentou nada de novo, porque por
incrível que pareça, no Japão se fala japonês a milênios e para
entender um japonês falando basta estudar língua japonesa. O que
há de inovador nisto?
Vejam
abaixo o diploma de Dr. Honoris causa dado por um Reverendo de um
suposto Curso de Teologia. Sim, curso de Teologia e não de Letras
que seria um curso mais apropriado para dar esta congratulação. O
que tem a ver “Teologia” com “Terminologia das artes marciais
japonesa”?
Diploma da FAETAM que não tem licença do MEC para promover curso de nível superior* |
E vejamos, para um título de Dr.
Honoris Causa a faculdade que oferece este título, pelo menos aqui
no Brasil, tem que ser reconhecido pelo MEC! E para a nossa
surpresa vejam o que descobrimos sobre a FAETAM, entidade que
prestigiou e congratulou este 7ºDan de karate shotokan com o título
de “Doutor”.
Vejam o que diz nesta reportagem no seguinte link: Curso Superior sem licença do MEC é suspenso pelo MPF em Belém.
Disponível no Link* |
Isto mesmo, a FAETAM não tem licença do MEC para promover curso de Nível Superior, ou seja, não podia nem dar título de "Doutor". Este Sr. que fica se
gabando por ser o Dr. Honoris Causa não tem um diploma de instituição reconhecida
pelo MEC! E agora? Será que todas esta pompa de se considerar um
Doutor tem cabimento? Acho que não.
Isto nos leva a crer que este Diploma
de “Dr. H.C.” foi forjado por uma entidade de aspecto para lá de
duvidoso, sabe-se lá se não foi uma troca de favores, algum
“agradinho” de algum “amiguinho” do mundo “acadêmico”.
Sabe-se lá qual foi critério usado para consagrar tal Shihan um
“Dr. H. C.”, pois o título não condiz com a irrelevância do
conhecimento linguístico deste. Sim, irrelevante, pois como já
falamos, isto acrescentou absolutamente NADA para a sociedade!
Definitivamente este título de Doutor
não deve ser levado a sério!
Este “Doutor” pode ter saído de
uma boa linhagem do karate, aprendido esta arte marcial com grandes
mestres, pode ter feito parte de federações sérias, pode até
mesmo ser um grande professor, mas infelizmente colocou tudo a perder
quando se uniu a algumas pessoas já denunciadas neste blog e resolveu se vincular a entidades não muito confiáveis. Isto ao invés de promover o nome deste shihan compromete a sua imagem, não só a imagem dele, mas a imagem das artes marciais, do karate, e a imagem do tão sagrado e respeitado universo acadêmico.
Se dizer uma coisa que realmente não se comprova, é no mínimo muita desonestidade.
Se dizer uma coisa que realmente não se comprova, é no mínimo muita desonestidade.
Texto: Taka Nakara
*Todas as imagens usadas neste post. Estão publicadas no facebook em domínio público, qualquer um que tiver acesso ao facebook pode conferir não só as imagens como as publicações e os diálogos estabelecidos.
P.S.: Achamos estas fotos aqui de pessoas se formando em teologia na FAETAM, uma universidade sem reconhecimento do MEC. Estes cursos geralmente estão ligados à grupos religiosos. É bom ser enganado...
*Todas as imagens usadas neste post. Estão publicadas no facebook em domínio público, qualquer um que tiver acesso ao facebook pode conferir não só as imagens como as publicações e os diálogos estabelecidos.
P.S.: Achamos estas fotos aqui de pessoas se formando em teologia na FAETAM, uma universidade sem reconhecimento do MEC. Estes cursos geralmente estão ligados à grupos religiosos. É bom ser enganado...
De pé o "reitor" da universidade FAETAM |
Comemorando diploma não reconhecido pelo MEC |
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