quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Um tal "Doutor" em Terminologias das Artes Marciais Japonesas


Hoje vamos falar um pouco sobre um caso que vem nos chamando a atenção. Notamos que um mestre em artes marciais vem fazendo uso deste recursos para se auto promover. A princípio nada contra, pois saber nem que seja um pouco da língua do país do qual se origina uma arte marcial é super válido. Porém notamos algumas contradições com relação a isto que devem serem esclarecidas. Portanto vamos esclarecer que contradições são estas que estão por trás deste título de “Dr. Honoris Causa em Terminologias das Arte Marciais Japonesas”.

Imagem de domínio público no Facebook*

Começaremos este post com alguns esclarecimentos:

O que faz uma pessoa estar apta à entender uma língua estrangeira?
Primeiramente a pessoa deverá aprender uma língua estrangeira em algum curso ou escola capacitada para isto. Esta máxima vale para o aprendizado de qualquer língua estrangeira, até mesmo para o a língua espanhola tão parecida com a língua portuguesa (portunhol não basta). Os cursos de línguas em si também não bastam para uma pessoa ser “entendedora” de uma determinada língua, somente decoreba e repetição não fazem de uma pessoa um linguista fluente, para ter fluência deve-se ter a prática, falar com as pessoas que sejam fluentes nesta língua.

Como uma pessoa pode provar que é entendedora de uma determinada língua?
A opção mas fácil e acessível é concluir cursos de língua estrangeira e receber os certificados destes, mas devemos fazer uma observação, não basta receber os certificados e guarda-los numa gaveta, em cinco anos se recomenda fazer uma reciclagem do seu conhecimento, pois a falta de prática pode levar ao esquecimento da língua. Outra opção é fazer os testes de proficiência na língua estrangeira. Conquistar um certificado de proficiência é um meio OFICIAL de testar e provar o conhecimento numa determinada língua. Os testes de proficiência geralmente são feitos por algum órgão ou instituição encarregada de uniformizar e fazer esta avaliação. Vejam alguns testes de proficiência nesta matéria: Os principais teste de proficiência em vários diomas. Com relação a língua japonesa o teste de proficiência é aplicado pela Japan Fundation, a prova é conhecida pelo nome de “Noriyoko Shiken. Um certificado de proficiência é essencial caso uma pessoa queira estudar em outros países, pois conta pontos na hora de fazer uma pós-graduação, ou bolsa de estudos em faculdades internacionais. Veja mais neste link: Exames de Proficiência. Outra forma é a pessoa se formar no curso de Letras com a especialização em Língua Estrangeira (no caso aqui línguas asiáticas).
Sobre este assunto veja mais neste link: Certificado japones.

O que seria um título de Doutor?
No universo acadêmico, ou seja curso superior (faculdade ou universidade), existem graus que uma pessoa por intermédio de seus estudos pode chegar, o primeiros podem ser os títulos ou de bacharel ou de licenciatura (agora também tem o tecnólogo), depois vem a pós-graduação, depois se a pessoa quiser continuar se especializando ela pode tirar o mestrado, na continuação deste vem o doutorado, na sequencia ainda pode tirar o pós-doutorado.

O que seria um título de Dr Honoris Causa?
Este é um título honorífico concedido por uma universidade a uma pessoa eminente, esta não necessariamente pode ter recebido anteriormente um diploma universitário, basta que tenha se destacado em determinada área (artes, ciências, filosofia, letras, promoção da paz, de causas humanitárias etc.). Para a alguém ser digno deste título a pessoa tem que ter feito algo realmente relevante e significativo para a sociedade, ou para a ciência, etc.
Lembramos que para estes títulos universitários serem válidos no Brasil os cursos superiores de faculdades (ou universidade) tem que passar pela avaliação do MEC e ter a autorização da mesma para poderem certificar. Diploma de curso sem reconhecimento do MEC só serve para enfeitar parede.

E por falar em faculdades…. Voltando para aquele shihan de karate que se diz “Dr. Honoris Causa em Terminologias das Arte Marciais Japonesas”... Sim, ele se gaba de ter um título de Dr. H. C. e faz questão de salientar isto, inclusive na hora de assinar seus diplomas. Mas será que para as artes marciais isto realmente é relevante? Será que este conhecimento é digno de um título desta magnitude?

Vejamos as reflexões abaixo:

O que foi feito de relevante por este shihan que seja digno de um título de Dr. Honóris Causa?
Para sociedade não teve benefício nenhum, muito menos para a língua japonesa, menos ainda para o karate que sempre usou estes termos em japonês, pois afinal o karate veio do Japão (Okinawa é território japonês). Relembrando, o título de “Dr. H.C.” é para aquelas pessoas que fizeram algo de relevante.

Saber as palavrinhas em japonês de uma determinada arte marcial é relevante?
As palavrinhas em japonês somente são relevantes para quem pratica a arte marcial, pois quem não pratica esta pouco se lixando se o correto é escrever “OSS” ou “OSU” por exemplo, ninguém perde noites de sono ou deixa de aprender uma arte marcial por conta disto.

Será que uma pessoa com o nível básico na língua japonesa não teria a capacidade de saber a mesma coisa que o Dr. Honoris Causa?
A princípio os termos em japonês ditos dentro da prática do karate não são tão difíceis para quem estuda a língua japonesa, pois eles dizem respeito a posições e direções, nomes de bases, nomes de katas que já foram de certa forma traduzidos para a língua portuguesa. Se a praticante de karate tem um livro escrito em japonês melhor ainda, pois pode estudar os kanjis, mas mesmo assim sem ver os caracteres japoneses pode-se conhecer muito de “terminologias japonesas” com o karate. Qualquer praticante que saiba os nomes dos golpes sabe alguma coisa na língua japonesas, apesar de não se dar conta disto. Exemplo: mae, ushiro, jo, chu, ague, soto, uchi, palavras que se aprende no karate, estes termos também são ensinados nos cursos de língua japonesas básico.

Livros de karate escrito em japonês que já foram passados para a língua portuguesa

Sim, isto mesmo, alguém com o conhecimento adquirido em cursos de japonês no nível básico pode saber o mesmo que o “Doutor” em terminologias, conhecimento este equivalente a prova de nível 5 do exame de proficiência em língua japonesa, que é o mais fácil de todos os testes de proficiência da Japan Fundation. Basta pegar os dicionários e livros certos e estudar, não há mistério nenhum com relação aos termos usados no karate, não para quem realmente estuda o japonês.

Exatamente por isto que um título Dr. H.C. é pompa demais para um conhecimento que qualquer estudante de língua japonesa pode adquirir, além do que isto não acrescenta nada para a sociedade, nem para a comunidade de praticantes do karate e muito menos para a língua japonesa. Não é o mesmo que “descobrir a pólvora” ou “descobrir a roda”, isto não acrescenta nada! Mesmo porque sempre foram usadas as terminologias japonesas para ensinar o karate. O “Doutor” do karate não descobriu nada de novo, não acrescentou nada de novo, porque por incrível que pareça, no Japão se fala japonês a milênios e para entender um japonês falando basta estudar língua japonesa. O que há de inovador nisto?

Vejam abaixo o diploma de Dr. Honoris causa dado por um Reverendo de um suposto Curso de Teologia. Sim, curso de Teologia e não de Letras que seria um curso mais apropriado para dar esta congratulação. O que tem a ver “Teologia” com “Terminologia das artes marciais japonesa”?
 
Diploma da FAETAM que não tem licença do MEC para promover curso de nível superior*

E vejamos, para um título de Dr. Honoris Causa a faculdade que oferece este título, pelo menos aqui no Brasil, tem que ser reconhecido pelo MEC! E para a nossa surpresa vejam o que descobrimos sobre a FAETAM, entidade que prestigiou e congratulou este 7ºDan de karate shotokan com o título de “Doutor”. 

Vejam o que diz nesta reportagem no seguinte link: Curso Superior sem licença do MEC é suspenso pelo MPF em Belém.



Disponível no Link*
 

Isto mesmo, a FAETAM não tem licença do MEC para promover curso de Nível Superior, ou seja, não podia nem dar título de "Doutor". Este Sr. que fica se gabando por ser o Dr. Honoris Causa não tem um diploma de instituição reconhecida pelo MEC! E agora? Será que todas esta pompa de se considerar um Doutor tem cabimento? Acho que não.
Isto nos leva a crer que este Diploma de “Dr. H.C.” foi forjado por uma entidade de aspecto para lá de duvidoso, sabe-se lá se não foi uma troca de favores, algum “agradinho” de algum “amiguinho” do mundo “acadêmico”. Sabe-se lá qual foi critério usado para consagrar tal Shihan um “Dr. H. C.”, pois o título não condiz com a irrelevância do conhecimento linguístico deste. Sim, irrelevante, pois como já falamos, isto acrescentou absolutamente NADA para a sociedade!

Definitivamente este título de Doutor não deve ser levado a sério!
Este “Doutor” pode ter saído de uma boa linhagem do karate, aprendido esta arte marcial com grandes mestres, pode ter feito parte de federações sérias, pode até mesmo ser um grande professor, mas infelizmente colocou tudo a perder quando se uniu a algumas pessoas já denunciadas neste blog e resolveu se vincular a entidades não muito confiáveis. Isto ao invés de promover o nome deste shihan compromete a sua imagem, não só a imagem dele, mas a imagem das artes marciais, do karate, e a imagem do tão sagrado e respeitado universo acadêmico.

Se dizer uma coisa que realmente não se comprova, é no mínimo muita desonestidade.

Texto: Taka Nakara



*Todas as imagens usadas neste post. Estão publicadas no facebook em domínio público, qualquer um que tiver acesso ao facebook pode conferir não só as imagens como as publicações e os diálogos estabelecidos.

P.S.: Achamos estas fotos aqui de pessoas se formando em teologia na FAETAM, uma universidade sem reconhecimento do MEC. Estes cursos geralmente estão ligados à grupos religiosos. É bom ser enganado...

De pé  o "reitor" da universidade FAETAM

Comemorando diploma não reconhecido pelo MEC
 

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