quinta-feira, 17 de abril de 2014

Especial Grandes Mestres do Finjutsu: Frank Williams Dux – O Cavalo Paraguaio*.

*Flying horse é o apelido que a imprensa especializada deu a Frank Dux

Atenção: esta matéria contém spoilers, zoações, críticas ao cinema hollywoodiano e revelações coerentes sobre um mestre de finjutsu.

    Idos anos 1988, um grande blockbuster invadia os cinemas, videolocadoras e videoclubes do Brasil; o surgimento de um ator belga que revolucionaria os filmes de ação com suas técnicas elásticas e seu famoso espacate, o astro Jean Claude Van Damme...

    Depois de ser banido da produção do filme O Predador como dublê do arrojado alienígena invisível, lutar contra Sho Kosugi numa participação especial e roubar a cena no filme “Retrocedernunca, render-se jamais” – aparecendo no começo e depois só no final do filme; sua verdadeira estréia cinematográfica como protagonista de um filme, para a alegria ou decepção – pelo menos a minha... foi em “O Grande Dragão Branco” (Bloodsport ou “Força Destruidora” para os portugueses) dirigido por Newt Arnold, produzido pela Cannon International Films de Yoram Globus e Menahen Golan – famosos em produzirem o melhor e o pior do gênero cinema trash de ação dos anos 1980 como He-Man emMestres do Universo”, “Allan Quartermain e a Cidade perdida do ouroe “Comando Delta”. O Grande Dragão Branco tem um enredo interessante sobre um torneio misterioso nos subúrbios de Hong Kong contrastando com a história de um ilustre desconhecido chamado Frank Dux.
Frank W. Dux - The Flying Horse.

Frank Williams Dux – “O Cavalo Alado”; nasceu em 1956 na cidade de Toronto, Canadá; filho de sobreviventes do Holocausto, passou sua adolescência em São Francisco, Califórnia. Atualmente mora em Seattle nos EUA. Frank Dux promove seminários de defesa pessoal, realiza trabalhos sociais e afirma ter atuado como agente secreto a serviço da CIA, inclusive, existe uma biografia intitulada “The Secret Man” (O Homem Secreto).

   A refutação não se trata do talentoso ator belga – que passou por problemas com drogas, divórcios conturbados e o fracasso de filmes como The quest (também co-produzido em parceiria com Frank Dux), Time Cop e o nada-a-ver Street Fighter (a pior entre todas as adaptações de videogames entre “A lenda de Chun-Li” e “Resident Horrível Evil”); mas sim, de Frank Dux considerado pelo site Bullshido.netcomo “o maior charlatão de todos os tempos”, superando outros impostores famosos nos EUA como o ninja mandrake Ashida Kim e a pervertida sul-coreana Yun Jun Kim.

    O enredo de “O Grande Dragão Branco” que todo mundo já assistiu em reprises da “Sessão da Tarde” ou canais por cabo já sabe de-cor-e-salteado que Jean Frank Van Dux vai até Hong Kong participar do Kumitê: um evento anual secreto de artes marciais honrar seu “Shidoshi” Tanaka, onde seu árduo treinamento é explicado num rápido flashback.
Jackson, você é um noob!

Em meio o enredo, agentes do exército americano tentam impedir que Van Dux prossiga na competição – cujo o motivo não se explica, senão, uma desculpa para Forest Whitaker aparecer no filme...

   Em meio a uma partida de Karate Dojo, Jean Frank Van Dux faz amizade com Jackson, um motoqueiro barbudo, com cara de louco, que participa do Kumitê e também conhece uma bela jornalista loira, bonita e sensual que faz de tudo (digo: tudo) para conseguir uma cobertura jornalistica completa sobre o Kumitê – sem contar que é a única presença feminina do elenco só pra quebrar os níveis de testosterona, pois, filme de porrada é filme de macho...
Karate Dojo, anterior ao Karate Championship

   Como sempre rege a regra dos filmes estadunidenses o “vilão” do filme é nada mais do que um asiático – Claro! Quem recorda do Guile protagonista e o Balrog (Mike Bison) “mocinho” de Street Fighter? Coube ao ator chinês Bolo Yeung (o Hércules chinês) encarnar o papel do temido lutador coreano Chong Li, cuja a cena mais emblemática são as salvas da torcida gritando seu nome enquanto Chong Li saltava freneticamente agitando seus músculos...

   A cena mais dramática do filme acontece quando Van Dux assite Chong Li merendar na bicuda seu amigo Jackson, o motoqueiro barbudo e com cara de louco, tomando sua bandana da Harley Davidson como troféu.
    Como todo o enredo de filme de ação, Van Dux se vê solitário, refletindo seus dilemas recentes e se prepara para vencer Chong Li, que com a mãozinha dos roteiristas, estarão lutando nas finais do torneio...
Lutadores estilo macaco.
    Não posso deixar passar batido a cena que Chong Li mata um lutador figurante e deixa toda a torcida (de figurantes) e todos os mestres (também figurantes) em silêncio; apenas para escrever esta zueira...
   Na luta final, Jean Frank Van Dux convence os agentes do exército americano que precisa realizar sua vingança pelo seu amigo Jackson motoqueiro barbudo, com cara de louco, noob no videogame e baixado na UTI comendo carne de cachorro via sonda (lembre-se que é um hospital de Honk Kong – zueira); para isso, Van Dux irá saltar, dar espacates no ar, meter um dedão na cara de Chang Li estando de costas, após uma pirueta em meio ao erro de continuidade; além de fazê-lo de bobinho durante as sequências de camera lenta, deixando à única mulher do filme muito excitada...
Ai, fiquei toda molhadinha!

   Mas, como um filme precisa mostrar alguma dramaticidade na vitória, Chang Li arremessa um pó branco (...) nos olhos de Jean Frank Van Dux que o deixa parcialmente cego, impossibilitando acertar o “malvado-e-não-americano” Chang Li que se aproveita do momento para bater nele até que Van Dux lembra do seu treinamento extrassensorial, permitindo o dom de sentir a presença do inimigo sem enxergar. Com essa “vantagem”, Jean Frank Van Dux finalmente vence Chang Li para conquistar definitivamente o título do Kumite e o reconhecimento da entidade secreta chinesaKokoro Kai”... 

   Antes dos créditos do filme aparecer, ficamos sabendo que esse filme foi inspirado na biografia do verdadeiro Frank W. Dux que possui um ranking invejável de títulos do tal Kumite e seus recordes mandrakes:
cena da bandana
  • Recorde mundial de 56 nocautes consecutivos (num só campeonato?).
  • Recorde mundial de nocaute mais rápido registrado em 3.2 segundos.
  • Recorde mundial de soco mais rápido de 0.12 segundos.
  • Recorde mundial de chute mais rápido: 115 km/h.
  • Recorde mundial de menor tempo de duração em lutas com nocautes de 1:20 segundos.
  • Recorde mundial de invencibilidade de 329 lutas consecutivas.

   Seria Frank Dux o “Usain Bolt” das artes marciais? A vida de Frank Dux retratada no cinema e livros não passam de mera ficção! Dux alega que tinha participado do Kumite durante uma “missão secreta” em 1975 enquanto investigava a Kokoro kai. O jornal Los Angeles Times revelou que o endereço da Kokoro Kai era o mesmo de sua residencia nos EUA e o famoso troféu conquistado no Kumite havia sido comprado em uma loja próximo de sua casa... Tudo não passou de uma propaganda pessoal para promover seu Finjutsu Dux Ryu.

Um diz "Matei", outro diz "Matte"
 Em sua defesa, Dux disse “que tudo não passa de uma conspiração para desacredita-lo, liderada pelo mestre de Ninjutsu Stephen K. Hayes, que o vê como uma ameaça”, também alega que quem o chamar de picareta mandará o Danilo ligar para ameaçá-los com seus processos inventados...

   Tirando a indireta com o “Advogado Danilo”, a verdade dos fatos são estes:
  • Frank Dux se intitula mestre em Ninjutsu Koga Yamabushi e que teria sido agente secreto, porém, nunca apresentou evidencias que comprove esses fatos...
  • Frank Dux nunca provou que teria treinado com Senzo Tanaka – se é que este homem existiu...
  • Seus recordes mandrakes de chutes e nocautes velozes também são suspeitos por não serem registros oficiais. Afinal, se o Kumite era um torneio secreto, quem registrou esses recordes e qual a credibilidade de um torneio realizado as escuras?
  • Inclui também na lista de questionamentos o recorde de invencibilidade de 329 lutas.

   Ora, grandes lutadores renomados como Cassius Clay, Mike Tyson, Andy Hug, Arcelino “Popó” Freitas, Anderson Silva, Rorion e Royce Grace que lutaram entre dez a quinze anos em média, todos foram invictos até certo ponto de suas carreiras, e nenhum deles chegou a ultrapassar mais do que, pelo menos, 70 combates... Só no Kyokushin, o maior desafio é a luta contra 100 homens e pouquíssimos homens foram capazes de atingir a meta final sem perder uma só vez!

   Entre outras situações, há também o fato que durante a produção de O Grande Dragão Branco, Frank Dux e Van Damme chegaram a se estranhar a ponto de rolar um processo judicial. Uma nova parceria com Van Damme aconteceu em meados dos anos 1990 no filme The Quest (Desafio Mortal) cujo o enredo é bem semelhante de Bloodsport, só que se passava nos anos 1920.

   Ainda sobre o enredo de “O Grande Dragão Branco” há um outro filme Sino-Japonês chamado “Blood Fight” de 1989, que já foi exibido no Brasil no extinto Força Total da TV Bandeirantes (Band TV) estrelado pelo Karateka Yasuaki Kurata e Bolo Yeung onde podemos fazer as seguintes comparações:
Yasuaki Kurata
  • Yasuaki Kurata é um mestre de Karate aposentado das competições e procura um novo discipulo para substituí-lo.
  • O vilão é o mesmo Bolo Yeung, que chama-se Chung-Li – a serpente vietnamita.
  • Chung-Li mata o discipulo do mestre de Karate e leva consigo sua bandana.
  • Chong Li! Chung Li!
    A maior parte da trama do filme é contada num flashback há dois anos antes da luta final entre o Mestre de Karate e Chung Li.
  • Na luta final, Chung-Li exibe a bandana de seu discípulo morto amarrado na cintura.
  • Igual a cena marcante de Bloodsport, o público também saúda Chung-Li gritando seu nome.
  • Chung Li trapaceia na luta usando cacos de vidro para atingir a visão do mestre de Karate tentando cegá-lo...
  • No final da luta, Chung Li morre e o mestre de Karate retira a bandana de seu falecido discípulo.
   O mais intrigante neste filme é que apesar de Blood Fight (1989) ser posterior a Bloodsport (1988), o enredo do filme soa mais original que o famoso filme hollywoodiano; isso sem contar que Bolo Yeung aparenta estar mais jovial que no filme de 1988... 


os dois filmes rolam uma sabotagem.
   Muita gente que paga-pau para filmes estadunidenses já falou que Blood Fight é uma cópia barata de Bloodsport; isso pode ser verdade, mas quem diz isso de boca cheia nunca percebeu que a indústria do cinema hollywoodiano há anos compram roteiros de filmes estrangeiros em pré-produção para lançá-los antes e ficar com a fama de “os donos da cria”. Um bom exemplo é o enredo do filme do Juiz Dredd de 2012 ser exatamente igual ao roteiro do filme filipino The Raid: Redemption de 2011, onde uma cambada de baba-ovos do cinema hollywoodiano, auto-declarados “criticos de cinema” compararam com Tropa de Elite e confundem Pencak Silat com Kung Fu... Sabem de nada, inocente!!!!

    Mas não demora muito quando chegar a versão hollywoodiana de “Oldboy” para esses mesmos críticos dizerem que será melhor do que o original coreano... Viva o Cine-preconceito!
   Então, se com meros filmes as pessoas já fazem esse tipo de julgamento leviano, imagina então quem pratica o finjutsu sem saber... A aparência sempre engana...


Sumo havaiano e outro é sumo japones. 
    E que me perdoem os fãs de Van Damme, até gosto do filme, mas, por se tratar de um “Cavalo Paraguaio” como Frank Dux, sou mais a favor do filme nipônico que está mais voltado a uma ficção de entretenimento do que uma biografia de mentira. Se não fosse Frank Dux tentar se promover com o filme, continuaria sendo um dos meus títulos de ação preferidos – e também um dos raros filmes legais de Van Damme...




quarta-feira, 9 de abril de 2014

Hankitsudo - Um câncer no pulmão do país.

Shihan Kasano Pato, mestre em Investiga-Do, volta com BOMBA pra vocês, galera. A bola da vez é o Hankitsu Do.

함긷수도 - (Ham Git Su Do). Vulgo "Hankitsu Do", é uma "arte marcial" que tem crescido no Amazonas e... E... Se autodenomina Kickboxing Coreano. Diz-se que vem de:

Ham – Sabedoria
Kitsu – Vital
Do – Caminho

Sendo que Kitsu (gidsu / 긷수) não tem tradução nenhuma em coreano. NENHUMA! Sem contar que HAM não é sabedoria (sabedoria é Jihye). Ok, Do é caminho. Mas isso é fácil de pegar.

Bom, pra uma arte marcial que é dita coreana, é um pouco estranho o fato de ter nascido em uma cidade brasileira (especificamente, Manaus, Amazonas). É ainda mais estranho que não haja sequer uma referência sobre tal arte em qualquer site coreano.

O criador, mestre Ewerton Oliveira, ou Sam, é dito, em seu site ser
"Mestre 5ºDan de Hankitsu-do Mestre em Defesa Pessoal e Combate Corpo-a-Corpo Mestre 4ºDan em Martial Arts Military Methods Professor de Capoeira Marcial Criador do Estilo Hankitsu-do Especialista em Submission Especialista em Kickboxeng (sic) Especialista em MMA Especialista em Boxe Especialista em Defesa e Combate com Armas Brancas Especialista em Defesa e Combata Urbano Especialista em Imobilizações Táticas Avançadas Especialista em Silenciamento de Sentinela e Infiltração Especialista em Camuflagem e Combate de Selva Especialista em Táticas Policias Especialista em Armamento, Munição e Tiro"
Além da clássica diarreia de especializações, a única arte marcial palpável aí citada é Capoeira. Capoeira e boxe. O resto parece cursinho de defesa pessoal militar - com todo respeito aos militares, mas ninguém que faz esses cursos se gradua e pode dar aula fora - Daqueles em que os professores normalmente são formados em artes marciais "de verdade" (com sistema formal). Além, é claro de um monte de citações inúteis a uma modalidade de kickboxing (como ser especialista em silenciamento de sentinelas).

Ah, não, pera. É útil (SIM!). A FEAM - Federação Amazonense de Artes Marciais, a entidade responsável por abrigar o Hankitsudo - criou uma aberração chamada GOPEM (Grupamento de Operações Especiais Marciais). É um curso que se abre uma vez por ano e tem como função treinar pessoas para serem guerreiros militares prontos para guerra mesmo que sejam todos civis e o país esteja em um cenário pacífico internacionalmente. Nesse curso, se aborda natação, combate armado com milhares de armas diferentes e silenciamento de sentinela. Olha que legal, estão treinando guerrilha civil! Carlos Marighella ficaria orgulhoso.

No Hakitsudo, como toda boa arte marcial forjada, existem cumprimentos mal feitos. Ora, pra um kickboxing "coreano", qual a função de se usar o Kin Lai, cumprimento de mão tradicional de artes marciais chinesas? E o "Força e Honra" do filme O Gladiador? Aliás, bem legal que nesse, pelo menos, ele verificou a forma de se dizer. Ou quase. No site deles (http://feamsam.blogspot.com.br/p/federacao.html), diz-se que em coreano é Him Miong-yé (eu grafaria como Him Myeog-ye ou 힘 명예), o que não está exatamente errado, exceto que isso não é usado como jargão na Coreia. Aliás, tem um erro sim, que é o fato que são só as duas palavras soltas. Além desses dois cumprimentos, eles também usam a continência militar e os gritos "Selva" e "Caveira!" (perfeito pra pegar menininho que quer ser o Cap. Nascimento). Além, é claro, da continência militar, já que a Coreia é definitivamente um país regido pelo militarismo (duvido que alguém tenha conseguido realmente sair de Bughan depois da separação).

Aliás, falando em militarismo, todo o Hankitsudo é baseado em militarismo, as graduações têm nomes militares e até o "código de honra" é bem militar. Vê só:

Na Hierarquia Militar:
1.     O superior manda e o subordinado obedece sem contestar; (boa pra silenciar quem percebe o embuste)
2.     O superior tem direito, o subordinado tem deveres; (boa pra explorar o aluno)
3.     O subordinado é obrigado a prestar continência, o superior responde se quiser. (desculpa pra ser um cuzão arrogante)
No Hankitsu-do à Hierarquia funciona na seguinte ordem:
1.     Posto: Patente reservada somente a membros administrativos do Estado Maior (Direção).
2.     Patentes: Meio de graduação dos atletas.

Bom, após sentir o drama e o lixo que deve ser treinar em um lugar desses, vamos a um fato interessante. DESCONSIDERANDO que o significado suposto do nome já foi desmascarado, vamos pro logo.



Hmmm. Caracteres soltos eu já vi antes.
Na imagem, lê-se claramente os caracteres Do (도), Gi (기), Sem (쇰) e Ji (지). (Eventuais erros, perdoem que eu estou sem poder visualizar as fontes orientais temporariamente). ELAS NÃO FAZEM SENTIDO. Nem soltas nem ordenando, não fica nada tipo "Hankitsudo" ou qualquer coisa sobre sabedoria vital.

Eu ainda poderia citar a ordem de graduação que chega a ter simbologia com significados fantasiosos pra cor da faixa e ainda a elas se atrelam patentes militares a civis só pra criar status, mas acho que por hoje já deu. Só os relatos que já tive sobre venda de certificados e a dubitabilidade das graduações do criador já me serviram.

Por fim, tenho pena da Editora Bueno, que convocou o mesmo para servir como exemplo, modelo de artista marcial naquele estado. Abaixo vai minha versão particular da imagem de convocação da Editora - que parece montagem, até o Magliacano fez melhor. Vergonha na cara do designer! - que deveria verificar antecedentes. Afinal, se a Amazônia é o pulmão do mundo, este pulmão está criando um câncer.

Pra uma editora que se diz especializada, tá mal.

Olho aberto, galera! OSU!