domingo, 17 de janeiro de 2016

Mc Dojo - O mercado do Finjutsu.

*tradução original do texto que pode ser acessado neste link.

Assista o vídeo original neste link
Mais cedo ou mais tarde, se você frequenta fóruns de artes marciais, você vai encontrar o termo pejorativo “McDojo”. Como uma franquia de restaurantes fast food, um McDojo geralmente está localizado em uma área comercial, oferecendo a você um gostinho de treino genérico de artes marciais, frequentemente de um modo formulado, por uma empresa franquiada. Como um fast food, a comida vai ser homogeneizada, reduzida ao mínimo denominador comum e servida rapidamente. VOCÊ TAMBÉM pode conseguir uma faixa preta em x meses, contanto que pague.

Chuveiros quentes, paredes forradas, a não-obrigatoriedade de aprender muitos termos/rituais arcanos... Contanto que você pague. Você pode deixar seus filhos lá por várias horas valendo gritos organizados, berros, chutes e socos, contanto que pague.

Parece que os piores aspectos do capitalismo ávido casaram com a violência organizada, não?
Na verdade, para alguém na outra ponta da corda, não acho que eu ataque tanto o McDojo típico comparado com outros puristas. Da forma que eu vejo, há uma vasta gama de modos na qual você pode organizar um sistema de treino, com McDojos em uma ponta e o mui “te manda, garoto, para de encher” tradicionalíssimo dojo na outra. É um espectro luminoso, e as linhas ficam realmente borradas no meio dele.
Tem algo mais Mc Dojo do que o Pa-kua Hermano??
Venda de graduação e cursinhos instantâneos
de defesas pessoais mandrakes fazem justiça ao termo. 

Não que fazer dinheiro seja errado. Mesmo no dojo mais tradicional, dinheiro e capital são necessários para uma variedade de coisas, tais como pagar o aluguel, contas de luz, custos organizacionais e assim por diante. Aprendi da forma mais difícil. Não ganhando dinheiro suficiente de mensalidades dos alunos para pagar o aluguel inteiro. É muito raro encontrar um grupo de budo que rejeite dinheiro de qualquer forma. A contabilidade para a sobrevivência do mesmo seria impossível para sobreviver na era atual, onde não há senhores feudais para serem mecenas da arte e custearem seu treino.

De qualquer forma, há um alcance, e há algum bem nos McDojos também, contanto que você não espere que eles lhe ofereçam o que eles não podem entregar.

Para que são bons os McDojos?

São ótimos para atividades físicas infantis e como alternativa ao futebol, liga mirim de beisebol, e assim por diante... as turmas geralmente são grandes, cheia de crianças bocudas gritando a plenos pulmões, se divertindo rolando pra lá e pra cá nos tatames coloridos. Também são bons massagistas de ego para os pais, se o Juninho conseguir uma faixa preta em questão de seis meses de treino. Você pode se gabar para os vizinhos.

Por ser mais organizado como empresas com fins lucrativos, você pode apostar que os líderes do dojo se preocupam com o número de crianças nas aulas, então eles encorajam o treino regular organizando vários torneios, piqueniques e outras atividades familiares. Haverá promoções frequentes. Também haverá muitos torneios onde seu filho terá a chance de ganhar troféus maiores que ele. E, talvez, as crianças ficarão um pouco mais saudáveis e desenvolverão um pouco de autodisciplina do treino.
Se um McDojo for capaz de oferecer tudo mencionado acima de modo satisfatório, é um McDojo bom. Ainda é um McDojo, porém decente. Você não pode ataca-lo por não ser o que não é suposto a ser.

É o mesmo com o nosso McDonalds local. Oferece hambúrgueres e fritas decentes. Nada especial. Também não compararia o mesmo ao bistrô a 20 quilômetros de distância que serve pratos da cozinha Pan-Pacífica New Age, tipo hambúrgueres de búfalo com molho cítrico de gergelim, ou até mesmo a loja de ramen na King Street que faz seu macarrão e a sopa do zero. McDonalds tem a ver com um lanche medíocre servido rápido com muita gordura saturada que te empanturra rápido, onde você não tem tempo ou esforço pra cozinhar sua própria comida ou dirigir até um restaurante melhor. Ele te preenche, e você não pode pedir por muito mais do que isso. E você sabe o que está comprando. Entre em qualquer McDonalds em quaisquer estados da União, e fora alguns poucos itens que são um agrado aos gostos locais (no Havaí, tem linguiça portuguesa, ovos e arroz no menu do café da manhã, e uma tigela de macarrão saimin no almoço e na janta), a comida é praticamente a mesma. Sem graça, mas a mesma. Sem surpresa.

Entre em um dos McDojos da cadeia de Joe Blow de Tae Kwon Do e MM Grappling (que provavelmente também promove kickboxing “fitness” para os pais) e você geralmente fará o mesmo tipo de treinamento em qualquer um dos dojos que você for sem surpresas.

E é isso. Você não pode esperar muito mais, porque eles não são preparados para oferecer mais. Estamos falando de produção em massa, maximização dos lucros. Estamos falando de FRANQUIA!
Você detectou um senso presunçoso de elitismo da minha parte? Pelo contrário. O McDojo supre uma demanda necessária, do contrário não existiria de forma tão prolífica, assim como o McDonalds existe porque também supre uma demanda, lucrativa inclusive. Eu ensino e treino em um pequeno grupo, mas nós nunca seríamos capazes de ensinar artes marciais para um monte de crianças que gritam para socar e chutar igual seu personagem favorito de anime. Não estamos aparatados para isso.

Na outra ponta da corda está o que eu chamaria de uma loja sui generis do ramo, ou uma bela experiência única de jantar com lugares limitados. A comida é exótica, o gosto adquirido, e não é para todos. O Masa Sushi’s no fim da rua só tem oito lugares para clientes. É pouco lucrativo, mas o proprietário é o chefe, e ele assegura que cada um dos clientes (que ele conhece por nome) estejam felizes com os sushis de seu menu especial. Os gostos pessoais no Masa não podem ser facilmente reproduzidos e franquiados, logo ele continuará pequeno. Talvez alguns dos chefes assistentes, após décadas trabalhando com ele, abrirão pequenos restaurantes similares em outras cidades, mas o Masa sempre continuará pequeno, para o conhecedor que sabe o quão fresco deve ser o gosto do maguro, ou discernir a qualidade dos feijões usados no sushi de natto.

Não é para todo mundo, nem nunca foi feito pra ser. De várias formas, é assim que um monte dos meus antigos professores e associados ensinam artes marciais. É tradição artesã, ensinada em pequenos grupos, com instrução um-a-um.


Mas a variedade das empresas de artes marciais é um alcance. No meio há várias organizações de budo modernas. Elas são grandes, como Shotokan e Aikikai, elas têm franquias nas quais o treino é mais ou menos o mesmo (Katas específicos e/ou kumite). Elas também conseguem englobar alguns valores dos “grupos fechados” tais como um nível alto de controle de qualidade e treino, adesão ao aprimoramento de técnicas de nível alto, e assim por diante. Esses grupos podem ter turmas consideravelmente grandes de adultos e crianças, mas elas também reforçam disciplina rigorosa e atenção à excelência. Competições são possíveis, mas têm seu lugar, e técnicas exibicionistas, sem função prática (que parecem legais em convenções de anime e cosplay fests) não são permitidas. Por sua natureza, não irão atrair tantos estudantes incautos quanto os McDojos. Elas atrairão pessoas que preferem integridade no treino, mas que não têm a inclinação cultural ou caráter pessoal para perseguir formas mais idiossincráticas de artes marciais.
Então, dispor de uma gama de escolas de artes marciais é, em minha opinião, tão natural quanto dispor de uma gama de restaurantes, de lanchonetes franquiadas aos restaurantes até bistrôs que oferece uma experiência única.

O problema que eu REALMENTE tenho é quando pessoas tentam enfiar características de um sistema de ensino em outro. Geralmente, isso significa que um McDojo tenta usar a metodologia ou conceito que por necessidade não cabe. Por exemplo, um McDojo inescrupuloso,  de forma a tentar transformar suas escolas em algo exótico, acharam por bem simplesmente ir além do rotular seus professores de “sensei”, chamando seus mestres maiores por “shihan”, “kyoshi”, “soke”, e por aí vai. Talvez tenham exaurido o assombro que causavam com o título de sensei, ou de darem a si mesmos o décimo terceiro dan.

Mas vá lá, eu posso entender “shihan” se você recebeu esse título de ensino de uma associação cuidadosamente regulamentada e sistematizada tal como a JKA (Japan Karate Association do Shotokan), mas o “soke” Joe Qualquercoisa do Qualquercoisa-ryu Kempo Kung Fu Luta na Lama Kurottee? Isso é igual a alguém dizer “Sim, sou o mestre-cuca do McDonald’s do Shopping Evergreen”. Não, cara, você não é um mestre-cuca, você é um chapeiro.

A bagagem que vem com ser um soke pode encher outro blog inteiro, e vai além de simplesmente declarar-se mestre do seu próprio estilo, o qual você pode pensar que só envolve socar, chutar e fazer “ninjices” por aí. Há muito mais do que isso, e irá, como falei, encher outro blog.


Deixando a advertência de lado, eu posso ver o valor de um McDojo. Eu não iria querer um bando de crianças doidas e gritonas tentando entrar no meu dojo de qualquer modo, assim como o Masa não gostaria que as pessoas ocupassem os oito lugares e tentassem pedir Big Macs em seu sushi bar. Um McDojo tem propósito. Um dojo grande de beira de estrada que tem vários estudantes e oferece treino estrito de judô, aikido, kendo, karate, etc, tem seu propósito e clientela, e nós temos nossa pequena, minúscula clientela também. Mas não misturemos as duas e não vamos fingir que elas são as mesmas.

Tradução: gafanhoto Joe.
Artigo original de wmuromoto do site The Classic Budoka. 

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