*Flying horse é o apelido que a imprensa
especializada deu a Frank Dux
Atenção:
esta matéria contém spoilers, zoações, críticas ao cinema
hollywoodiano e revelações coerentes sobre um mestre de finjutsu.
Idos
anos 1988, um grande blockbuster invadia os cinemas,
videolocadoras e videoclubes do Brasil; o surgimento de um ator belga
que revolucionaria os filmes de ação com suas técnicas elásticas e
seu famoso espacate, o astro Jean Claude Van Damme...
Depois
de ser banido da produção do filme “O Predador” como
dublê do arrojado alienígena invisível, lutar contra Sho Kosugi
numa participação especial e roubar a cena no filme “Retrocedernunca, render-se jamais” – aparecendo no começo e depois só
no final do filme; sua verdadeira estréia cinematográfica como
protagonista de um filme, para a alegria ou decepção – pelo
menos a minha... foi em “O Grande Dragão Branco”
(Bloodsport ou “Força Destruidora” para os
portugueses) dirigido por Newt Arnold, produzido pela Cannon
International Films de Yoram Globus e Menahen Golan –
famosos em produzirem o melhor e o pior do gênero cinema
trash de ação dos anos 1980 como He-Man
em “Mestres do Universo”, “Allan Quartermain e a Cidade perdida do ouro” e
“Comando Delta”. O Grande Dragão Branco tem um
enredo interessante sobre um torneio misterioso nos subúrbios de
Hong Kong contrastando com a história de um ilustre desconhecido
chamado Frank Dux.
Frank W. Dux - The Flying Horse. |
Frank
Williams Dux – “O Cavalo Alado”; nasceu em 1956 na
cidade de Toronto, Canadá; filho de sobreviventes do Holocausto,
passou sua adolescência em São Francisco, Califórnia. Atualmente
mora em Seattle nos EUA. Frank Dux promove seminários de defesa
pessoal, realiza trabalhos sociais e afirma ter atuado como agente
secreto a serviço da CIA, inclusive, existe uma biografia intitulada
“The Secret Man” (O Homem Secreto).
A
refutação não se trata do talentoso ator belga – que passou por
problemas com drogas, divórcios conturbados e o fracasso de filmes
como The quest (também
co-produzido em parceiria com Frank
Dux), Time Cop
e o nada-a-ver Street Fighter (a pior entre todas as
adaptações de videogames entre “A lenda de Chun-Li” e
“Resident Horrível Evil”);
mas sim, de Frank Dux considerado pelo site Bullshido.netcomo “o maior charlatão de todos os tempos”, superando
outros impostores famosos nos EUA como o ninja mandrake Ashida Kim
e a pervertida sul-coreana Yun Jun Kim.
O enredo
de “O Grande Dragão Branco” que todo mundo já assistiu
em reprises da “Sessão da Tarde” ou canais por cabo já
sabe de-cor-e-salteado que Jean Frank Van Dux vai até
Hong Kong participar do Kumitê: um evento anual secreto de
artes marciais honrar seu “Shidoshi” Tanaka, onde seu
árduo treinamento é explicado num rápido flashback.
Jackson, você é um noob! |
Em meio
o enredo, agentes do exército americano tentam impedir que Van
Dux prossiga na competição – cujo o motivo não se explica,
senão, uma desculpa para Forest Whitaker aparecer no filme...
Em meio
a uma partida de Karate Dojo, Jean Frank Van Dux faz amizade
com Jackson, um motoqueiro barbudo, com cara de louco, que
participa do Kumitê e também conhece uma bela jornalista
loira, bonita e sensual que faz de tudo (digo: tudo) para conseguir
uma cobertura jornalistica completa sobre o Kumitê – sem contar
que é a única presença feminina do elenco só pra quebrar os
níveis de testosterona, pois, filme de porrada é filme de macho...
Karate Dojo, anterior ao Karate Championship |
Como
sempre rege a regra dos filmes estadunidenses o “vilão”
do filme é nada mais do que um asiático – Claro! Quem recorda do
Guile protagonista e o Balrog (Mike Bison)
“mocinho” de Street Fighter? Coube ao ator chinês Bolo
Yeung (o Hércules chinês) encarnar o papel do temido lutador
coreano Chong Li, cuja a cena mais emblemática são as salvas da
torcida gritando seu nome enquanto Chong Li saltava freneticamente
agitando seus músculos...
A cena
mais dramática do filme acontece quando Van Dux assite Chong
Li merendar na bicuda seu
amigo Jackson, o motoqueiro barbudo e com cara de louco,
tomando sua bandana da Harley Davidson como troféu.
Como
todo o enredo de filme de ação, Van Dux se vê solitário,
refletindo seus dilemas recentes e se prepara para vencer Chong
Li, que com a mãozinha dos
roteiristas, estarão lutando nas finais do torneio...
Lutadores estilo macaco. |
Não
posso deixar passar batido a cena que Chong Li mata um lutador
figurante e deixa toda a torcida (de figurantes) e todos os mestres
(também figurantes) em silêncio; apenas para escrever esta
zueira...
Na luta
final, Jean Frank Van Dux
convence os agentes do exército americano que precisa realizar sua
vingança pelo seu amigo Jackson motoqueiro barbudo, com cara
de louco, noob no videogame e baixado na UTI comendo carne de
cachorro via sonda (lembre-se que é um hospital de Honk Kong –
zueira); para isso, Van Dux irá saltar, dar espacates no ar,
meter um dedão na cara de Chang Li estando de costas, após uma
pirueta em meio ao erro de continuidade; além de fazê-lo de bobinho
durante as sequências de camera lenta, deixando à única mulher do
filme muito excitada...
Ai, fiquei toda molhadinha! |
Mas, como
um filme precisa mostrar alguma dramaticidade na vitória, Chang
Li arremessa um pó branco (...) nos olhos de Jean Frank Van
Dux que o deixa parcialmente cego, impossibilitando acertar o
“malvado-e-não-americano”
Chang Li que se aproveita do momento para bater nele até que
Van Dux lembra do seu treinamento extrassensorial, permitindo
o dom de sentir a presença do inimigo sem enxergar. Com essa
“vantagem”, Jean Frank Van Dux finalmente vence Chang Li
para conquistar definitivamente o título do Kumite e o
reconhecimento da entidade secreta chinesa “Kokoro
Kai”...
Antes
dos créditos do filme aparecer, ficamos sabendo que esse filme foi
inspirado na biografia do verdadeiro Frank W. Dux que possui
um ranking invejável de títulos do tal Kumite e seus recordes
mandrakes:
cena da bandana |
- Recorde mundial de 56 nocautes consecutivos (num só campeonato?).
- Recorde mundial de nocaute mais rápido registrado em 3.2 segundos.
- Recorde mundial de soco mais rápido de 0.12 segundos.
- Recorde mundial de chute mais rápido: 115 km/h.
- Recorde mundial de menor tempo de duração em lutas com nocautes de 1:20 segundos.
- Recorde mundial de invencibilidade de 329 lutas consecutivas.
Seria
Frank Dux o “Usain Bolt” das artes marciais? A
vida de Frank Dux retratada no cinema e livros não passam de mera
ficção! Dux alega que tinha participado do Kumite durante uma
“missão secreta” em 1975 enquanto investigava a Kokoro
kai. O jornal Los Angeles Times revelou que o endereço da
Kokoro Kai era o mesmo de sua residencia nos EUA e o famoso
troféu conquistado no Kumite havia sido comprado em uma loja
próximo de sua casa... Tudo não passou de uma propaganda pessoal
para promover seu Finjutsu Dux Ryu.
Um diz "Matei", outro diz "Matte" |
Em
sua defesa, Dux disse “que tudo não passa de uma conspiração para desacredita-lo, liderada pelo mestre de Ninjutsu Stephen K.
Hayes, que o vê como uma ameaça”,
também alega que quem o chamar de picareta mandará o Danilo ligar
para ameaçá-los com seus processos inventados...
Tirando
a indireta com o “Advogado
Danilo”,
a verdade dos fatos são estes:
- Frank Dux se intitula mestre em Ninjutsu Koga Yamabushi e que teria sido agente secreto, porém, nunca apresentou evidencias que comprove esses fatos...
- Frank Dux nunca provou que teria treinado com Senzo Tanaka – se é que este homem existiu...
- Seus recordes mandrakes de chutes e nocautes velozes também são suspeitos por não serem registros oficiais. Afinal, se o Kumite era um torneio secreto, quem registrou esses recordes e qual a credibilidade de um torneio realizado as escuras?
- Inclui também na lista de questionamentos o recorde de invencibilidade de 329 lutas.
Ora,
grandes lutadores renomados como Cassius
Clay,
Mike
Tyson,
Andy Hug,
Arcelino
“Popó” Freitas,
Anderson
Silva, Rorion
e Royce
Grace que
lutaram entre dez a quinze anos em média, todos foram invictos até
certo ponto de suas carreiras, e nenhum deles chegou a ultrapassar
mais do que, pelo menos, 70 combates... Só no Kyokushin, o maior
desafio é a luta contra 100 homens e pouquíssimos homens foram capazes de atingir a meta final sem perder uma só vez!
Entre
outras situações, há também o fato que durante a produção de O
Grande Dragão Branco, Frank Dux e Van Damme chegaram a se
estranhar a ponto de rolar um processo judicial. Uma nova parceria
com Van Damme aconteceu em meados dos anos 1990 no filme The Quest
(Desafio Mortal) cujo o enredo é bem semelhante de
Bloodsport, só que se passava nos anos 1920.
Ainda
sobre o enredo de “O Grande Dragão Branco” há um outro
filme Sino-Japonês chamado “Blood Fight” de 1989, que já
foi exibido no Brasil no extinto Força Total da
TV Bandeirantes (Band TV)
estrelado pelo Karateka Yasuaki Kurata e Bolo Yeung
onde podemos fazer as seguintes comparações:
Yasuaki Kurata |
- Yasuaki Kurata é um mestre de Karate aposentado das competições e procura um novo discipulo para substituí-lo.
- O vilão é o mesmo Bolo Yeung, que chama-se Chung-Li – a serpente vietnamita.
- Chung-Li mata o discipulo do mestre de Karate e leva consigo sua bandana.
Chong Li! Chung Li! A maior parte da trama do filme é contada num flashback há dois anos antes da luta final entre o Mestre de Karate e Chung Li.- Na luta final, Chung-Li exibe a bandana de seu discípulo morto amarrado na cintura.
- Igual a cena marcante de Bloodsport, o público também saúda Chung-Li gritando seu nome.
- Chung Li trapaceia na luta usando cacos de vidro para atingir a visão do mestre de Karate tentando cegá-lo...
- No final da luta, Chung Li morre e o mestre de Karate retira a bandana de seu falecido discípulo.
O mais
intrigante neste filme é que apesar de Blood Fight (1989) ser
posterior a Bloodsport (1988),
o enredo do filme soa mais original que o famoso filme hollywoodiano;
isso sem contar que Bolo Yeung aparenta estar mais jovial que no
filme de 1988...
os dois filmes rolam uma sabotagem. |
Muita
gente que paga-pau para filmes estadunidenses já falou que Blood
Fight é uma cópia barata de Bloodsport; isso
pode ser verdade, mas
quem diz isso de boca cheia nunca percebeu que a indústria do cinema
hollywoodiano há anos compram roteiros de filmes estrangeiros em
pré-produção para lançá-los antes e ficar com a fama de “os
donos da cria”. Um bom exemplo
é o enredo do filme do Juiz Dredd de 2012 ser exatamente igual ao
roteiro do filme filipino The Raid: Redemption de 2011, onde uma cambada de
baba-ovos do cinema hollywoodiano, auto-declarados “criticos
de cinema” compararam com
Tropa de Elite e confundem Pencak Silat com Kung Fu... Sabem de nada,
inocente!!!!
Mas
não demora muito quando chegar a versão hollywoodiana de “Oldboy”
para esses mesmos críticos dizerem que será melhor do que o original
coreano... Viva o Cine-preconceito!
Então,
se com meros filmes as pessoas já fazem esse tipo de julgamento
leviano, imagina então quem pratica o finjutsu sem saber... A
aparência sempre engana...
Sumo havaiano e outro é sumo japones. |
E que me
perdoem os fãs de Van Damme, até gosto do filme, mas, por se tratar
de um “Cavalo Paraguaio” como Frank Dux, sou mais a favor
do filme nipônico que está mais voltado a uma ficção de
entretenimento do que uma biografia de mentira. Se não fosse Frank
Dux tentar se promover com o filme, continuaria sendo um dos meus
títulos de ação preferidos – e também um dos raros filmes
legais de Van Damme...